sábado, outubro 12, 2002

Álvares de Azevedo

Idéias Íntimas
(fragmento)

"(...)Parece-me que vou perdendo o gosto,
Vou ficando blasé, passeio os dias
Pelo meu corredor, sem companheiro,
Sem ler, nem poetar. Vivo fumando.
Minha casa não tem menores névoas
Que as deste céu d'inverno. . . Solitário
Passo as noites aqui e os dias longos;
Dei-me agora ao charuto em corpo e alma;
Debalde ali de um canto um beijo implora,
Como a beleza que o Sultão despreza,
Meu cachimbo alemão abandonado!
Não passeio a cavalo e não namoro(...)"

Sair? Hoje? Não, não, o Globo Repórter tá imperdível!!

Adélia Prado

No meio da noite

Acordei meu bem pra lhe contar meu sonho:
sem apoio de mesa ou jarro eram
as buganvílias brancas destacadas de um escuro.
Não fosforeciam, nem cheiravam, nem eram alvas.
Eram brancas no ramo, brancas de leite grosso.
No quarto escuro, a única visível coisa, o próprio ato de ver.
Como se sente o gosto da comida eu senti o que falavam:
"A ressureição já está sendo urdida, os tubérculos
da alegria estão inchando úmidos, vão brotar sinos.
" Doía como um prazer.
Vendo que eu não mentia ele falou:
As mulheres são complicadas. Homem é tão singelo.
Eu sou singelo.
Fica singela também.
Respondi que queria ser singela e na mesma hora,
singela, singela, comecei a repetir singela.
A palavra destacou-se novíssima
como as buganvílias do sonho. Me atropelou.
O que foi? - ele disse.
- As buganvílias...
Como nenhum de nós podia ir mais além,
solucei alto e fui chorando, chorando,
até ficar singela e dormir de novo.


Não, não, não. Isso era antes. Antes eu gostava de ti orquestra. Sabe mega? Dezenas de instrumentos. Entre sinfonias de lágrimas e desespero. Apoteótico, assim. Agora não, agora gosto de ti singelamente, calmamente. Gosto de ti bossa nova. Mais "um cantinho, um violão". Só quando eu te vejo que entram umas guitarras.

Então pára de filosofar e beija.


quinta-feira, outubro 10, 2002

- Questão de Tempo -
(não sei se a divisão de estrofes é assim e acho que é do Pedro Veríssimo)

Coração dispara
mesmo depois de tanto tempo

Segura minha mão,
eu seguro dentro o sentimento


A sua mão segura o momento
eu preso dentro dos seus dedos
O coração dispara e eu paro
sem nenhum pensamento


Isso passa
Isso passa também
Isso passa
Isso vai passar também
É questão de tempo
É questão de tempo


E foi só perder o compasso
e eu quase caí nos seus braços
Um simples movimento
e eu esbarrei em tanto que é passado


Não segura mais minha mão
não sei o quanto ainda guardo
O coração dispara e eu paro,
já não me sobra espaço


Pro que passa
Isso passa também
Isso passa
Isso vai passar também
É questão de tempo
É questão de tempo


Coração dispara
mesmo depois de tanto tempo


- Hello...
- Oi, sou eu.
- (10 seg) O-oi.
- Nossa, por que dem...
- Espera um pouco. (10 seg) Oi.
- Que foi.
- Tremeu a perna.
- Por quê?
- Não achei que tu fosse ligar.
- Mas tu atendeu "hello"! Tu atende hello pra todo mundo?
- Não, não! Só, sei lá. Não achei que tu ia ligar.

terça-feira, outubro 08, 2002

Não tenho como negar. Se pedissem para completar a frase: "Minha vida é..."

Resposta:

... amar. Minha vida são meus amores. Minha vida só me importa e só parece andar quando estou apaixonado. Tudo que faço é na tentativa (in ou consciente) de me tornar uma pessoa mais interessante para minha amada ideal. Se eu leio, se estudo, se dirijo, se me arrumo, se me visto, se organizo, se conheço, se falo, se me porto, se me cuido, não é para mim, é para essa ela idealizada e distante, irreal, mas presente em devaneio constante. Meu objetivo final, raramente sólido, porém sempre visível.

Não sou Gonçalves Dias, não me convidaram a amar. Quando vi já tinha isso trancando coronárias em plena segunda série. E de lá para cá pouco mudou. Continuo sofrendo por amor ou pela falta dele.

- Retrato pra Iaiá -

Iaiá, se eu peco é na vontade de ter um amor de verdade. Pois é que assim, em ti, eu me atirei e fui te encontrar pra ver que eu me enganei.

Depois de ter vivido o óbvio utópico - te beijar - e de ter brincado sobre a sinceridade e dizer quase tudo quanto fosse natural ... Eu fui praí e ver, te dizer:

Deixa ser. Como será quando a gente se encontrar ? No pé, o céu de um parque nos testemunhar. Deixa ser como será! Eu vou sem me preocupar. E crer pra ver o quanto eu posso adivinhar.

De perto eu não quis ver que toda a anunciação era vã. Fui saber tão longe - mesmo vc viu antes de mim - que eu te olhando via uma outra mulher. E agora o que sobrou: Um filme no close pro fim.

Num retrato-falado eu fichado exposto em diagnostico. Especialistas analisam e sentenciam: "Deixa ser como será. Tudo posto em seu lugar". Então tentar prever serviu pra eu me enganar. Deixa ser. Como será. Eu já posto em "meu lugar"? Num continente ao revés, em preto e branco, em hotéis. Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê.

- Rodrigo Amarante

É estranho que uma ferida feche e deixe, com sua cicatriz, saudade. É estranho sentir saudade daquela sangria desatada, da torrência de emoções. É até de certa forma masoquista, mas acontece. Não penso mais tanto nela e não tremi na sua frente. Sim, quis beijar, o que é inevitável. Porém, note bem, sem adrenalina. "Oi. Legal, né?" Mas já sinto falta de ter um sentimento realmente forte que me dê um certo rumo, um certo conforto até. Conforto de certeza, certeza de propósito. Mas não. Agora sou ainda mais aimless, ainda mais despropositado.

Vocês sabiam, leitores imaginários deste blog, que Linux é alternatiãvo?